O último ano foi marcado por grandes lutas travadas pela Unidade Popular no Bairro Coelhas, a dedicação dos militantes e o apoio assertivo da comunidade fizeram frente ao descaso do poder público. Localizado em Viçosa, município de Minas Gerais, o bairro compõe um terreno afastado da cidade, com difícil acesso e com precárias estruturas para atendimento à população.
Essa realidade fez com que uma grande mobilização levasse as demandas para serem manifestadas na Câmara Municipal da cidade, como a denúncia a respeito das condições precárias das estradas que levam até o bairro, o que foi expresso, posteriormente, em um abaixo assinado para a pavimentação destas. A Unidade Popular também marcou presença na Audiência Pública sobre o transporte público, o que culminou na conquista de mais horários de ônibus disponíveis.
Além disso, o enfrentamento nas ruas igualmente se fez presente, as convocações dos atos feito nacionalmente também adentrou as ruas do bairro, levando a presença da comunidade nas manifestações, inclusive, em falas lúcidas e representativas feitas pelas lideranças. Durante todo o processo de mobilização a comunidade foi protagonista, a construção de assembléias que envolvessem todo o bairro buscou, e ainda busca, tomadas de decisões democráticas e autonomia política dos envolvidos.
Bem como as assembléias, as reuniões também são construções coletivas que tornam-se iniciativas dentro do próprio bairro. As demandas levantadas são revertidas em ações que buscam sanar parte do problema e mais ainda, conscientizar a população qual deveria ser o papel do poder público naquela situação. Diversas panfletagens ocorreram durante o ano com esse mesmo objetivo, denunciando, inclusive, o governo fascista e negligente de Jair Bolsonaro.
Foi nesse desgoverno que o país retornou para o mapa da fome, consequência do preço dos alimentos absurdamente altos, o valor do gás batendo três dígitos e o desemprego assolando a população. Muitas famílias perderam sua fonte de renda durante a pandemia e se encontram desamparadas pelo poder público, o auxílio emergencial, que já era insuficiente no princípio da pandemia, agora sofre uma reformulação e além de sofrer drástica redução do valor ainda reduz o número de beneficiários.
É nesse cenário que a Rede Solidária, construída juntamente com as companheiras do Movimento de Mulheres Olga Benario, surgiu com o intuito de garantir alimentação básica para os moradores. Tal ação iniciou-se em maio de 2021 e a partir de uma campanha organizada com muito zelo conseguimos angariar recursos o suficiente para a distribuição de cerca de 15 famílias por mês. A parceria com as Benarias frutificaram mais uma vez na construção do brechó solidário, que a partir da venda de roupas foi levantado um valor para também reverter em alimentos.
Além das cestas, a Unidade Popular conversou com as famílias para ouvir as dificuldades e denunciar as negligências do governo, tendo sempre em mãos o jornal A Verdade para informar e acolher o povo. Nosso companheiro de todas as horas e instrumento de luta, esteve (e ainda está) presente durante toda a trajetória. Tanto nas entregas das cestas quanto nos diálogos com a comunidade conseguimos mostrar a potência da imprensa popular, provando pro povo que é necessário e possível uma grande mobilização em defesa da classe trabalhadora.
Em todos esses momentos citados nossa luta se fez presente, incluindo durante as festividades de fim de ano, que novamente foi mobilizado uma campanha defendendo comida no prato e segurança alimentar para a população. O Natal Sem Fome encerrou o ano de 2021 com cerca de 31 cestas distribuídas entre os bairros Coelhas I e Coelhas II.
A juventude também foi representada nas reivindicações, a única fonte de lazer um dia disponibilizado pelo poder público foi deixado abandonado ao ar livre com acúmulo de entulho. O campinho que estava completamente coberto por mato e lixo foi limpo e organizado a partir de um mutirão que contava com apoio inclusive dos jovens, foram horas de trabalho braçal com equipamentos dos próprios moradores e militantes. Após a limpeza, uma partida de futebol acompanhada de muita torcida (re)inaugurou o campinho. Algumas demandas como a troca de equipamentos do parquinho infantil localizado ao lado do campo ainda estão sendo esforçadas para conquistar.
As crianças, por sua vez, invisibilizadas e silenciadas ao longo da história tiveram sua infância negada e seus direitos privados. A realidade dentro da comunidade mostrava uma negligência inclusive com esse público e é vendo essa situação que a Unidade Popular organizou um dia das crianças para mostrar que se nada somos neste mundo, devemos ser produtores de uma nova realidade, uma realidade em que a dignidade, o lazer, o direito à alimentação, educação e moradia se façam presentes no cotidiano das pessoas e não apenas na constituição.
Definitivamente, solidariedade foi uma das palavras mais marcantes do ano anterior, e é com a força deste termo que a Feijoada da Tia Ana foi organizada com o intuito de conseguir comprar os medicamentos necessários para seu tratamento. Com a coordenação da Tia Ana, os militantes colocaram a mão na massa e antecipadamente organizaram a atividade, depois de uma ampla divulgação a feijoada foi carinhosamente preparada e entregue no conforto do lar daqueles que colaboraram.
Sendo assim, o trabalho no Bairro Coelhas representa um exemplo do que deve ser uma nova sociedade, onde as relações sejam de solidariedade e não de exploração, um espaço em que o povo se reúna para apontar seus problemas e buscar soluções de maneira coletiva, pois está mais que colocado que só o povo pode salvar o povo! E o sistema capitalista nada tem a nos oferecer, portanto para a saída deste abismo, devemos construir o socialismo!