Crescer com o peso da destruição planetária nas costas não é nada fácil, mas é disso que o neoliberalismo se utiliza para manter a cadeia de produção do capitalismo, ele atribui uma “natureza” à humanidade e assim transferindo a culpa para o indivíduo. Mas a realidade está longe de ser esta.
Laura Passarella – Comunicação Nacional da Unidade Popular
Em 2023, temos observado, de norte a sul do globo, o desenrolar de uma série de eventos climáticos desastrosos para a humanidade e o meio ambiente, que parecem se tornar cada vez mais frequentes e intensos.
Estima-se que, desde o início da revolução industrial, em meados do século XVIII, as temperaturas globais já tenham subido, em média, por volta de 1°C. Esse aumento substantivo causa uma série de consequências graves para o clima e os ecossistemas da Terra, tendo também efeitos catastróficos para os seres humanos que nela habitam: eventos climáticos cada vez mais intensos e desastrosos, aumento da temperatura do mar, recuo das geleiras, escassez de água para a população, mudanças em todos os ecossistemas do planeta e por aí vai. As regiões costeiras do mundo todo também estão sofrendo com as mudanças climáticas. O aumento do nível do mar já obrigou milhares de famílias a abandonarem seus lares, além da extinção do primeiro mamífero extinto por conta do aquecimento global: Melomys rubicula, um roedor que habitava uma ilha que foi completamente imersa pelo aumento do nível do mar.
Segundo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), 2023) atribui essas mudanças climáticas à exploração dos recursos da terra, como o uso insustentável de energia, a transformação de terras e a danificação desses espaços, os padrões de consumo e estilo de vida da sociedade. Mas quem realiza essa exploração dos recursos? Quem faz esse uso insustentável? Danifica as terras? Quem é que determina esses padrões de consumo e o estilo de vida?
QUEM É O VERDADEIRO RESPONSÁVEL PELA DESTRUIÇÃO DO PLANETA?
Ouvimos desde pequenos que a culpa do mundo desmoronar sob nossos pés é exclusivamente nossa. Crescer com o peso da destruição planetária nas costas não é nada fácil, mas é disso que o neoliberalismo se utiliza para manter a cadeia de produção do capitalismo, ele atribui uma “natureza” à humanidade e assim transferindo a culpa para o indivíduo. Mas a realidade está longe de ser esta.
De acordo com o estudo Climate Change And The Global Inequality Of Carbon Emissions (“Mudança climática e a desigualdade global das emissões de carbono”, em tradução livre) feito pelo World Inequality Lab, os 10% mais ricos são responsáveis por cerca de 20 vezes mais emissões de gases de efeito estufa em comparação com os 50% mais pobres a nível global. Vamos aos fatos concretos que materializam esses dados.
Durante o governo de Bolsonaro, resultado do enfraquecimento da legislação ambiental e de órgãos fiscalizadores, o desmatamento médio anual na Amazônia aumentou em 75% em comparação à década anterior. Em 2021, 4.915 km² foram devastados dentro de territórios federais. Esse desmatamento é realizado pelo agronegócio, que só em 2022 as empresas de proteína animal faturaram, em conjunto, R$ 520 bilhões, o setor de alimentos e bebidas somou R$270,4 bilhões em receita e o setor de agroquímica e insumos, que contaminam nossas comidas, águas e terras com agrotóxico, aumentou sua arrecadação em 49%. Para garantir esses altos lucros crescentes, destroem nossas florestas, assassinam camponeses, indígenas e quilombolas para apropriarem suas terras, enquanto a maioria da população brasileira não consegue garantir uma boa alimentação. Além do desmatamento, os capitalistas do agronegócio são responsáveis por 76% das emissões de gases do efeito estufa no Brasil, pelo esgotamento dos mananciais de água, degradação do solo, contaminação do solo, ar e água e geração de toneladas de resíduos.
Quando o assunto é emissão de CO2, a indústria do combustível fóssil ganha em disparada. “Cerca de 100 companhias respondem por 71% das emissões históricas globais de dióxido de carbono”, aponta Alexandre Araújo Costa, físico e climatologista, professor da UECE (Universidade Estadual do Ceará) e pesquisador em mudanças climáticas. Os dados apontados pelo pesquisador fazem parte do relatório Carbon Majors, publicado em 2017, que liga a responsabilidade dessa alta emissão de gases do efeito estufa (GEEs) a esses produtores a partir de 1998, ano em que as mudanças climáticas provocadas pelo ser humano foram oficialmente reconhecidas. Entre as companhias estão as gigantes Exxon Mobil, Shell, BHP Billiton e Gazprom.
Quando o assunto são os plásticos, a Coca-Cola Company e a PepsiCo são as duas maiores poluidoras do resíduo pelo quarto ano consecutivo, de acordo com o relatório Break Free From Plastic.
Outro estudo, publicado em 2019 pelo Instituto de pesquisas Climate Accountability Institute, revelou que apenas 20 empresas foram responsáveis por um terço de toda a emissão de CO2 do mundo desde 1965.
Ou seja, quem está acabando com o planeta terra não é seu banho demorado e sim as grandes corporações, os capitalistas.
POBRES SÃO OS QUE MAIS SOFREM COM OS DESASTRES AMBIENTAIS
Porém, por mais que as famílias mais pobres não carreguem a responsabilidade das mudanças climáticas, essas são as pessoas que mais sofrem com as consequências desses eventos. As comunidades mais pobres e marginalizadas são as mais afetadas pelas mudanças climáticas: sofrem com as inundações, deslizamentos, secas, desbarrancamentos, e pagam muitas vezes, com suas vidas.
Entre os anos de 2010 e 2020 a taxa de mortalidade devida às tempestades, inundações e secas foi 15 vezes mais alta nos países mais vulneráveis às mudanças climáticas do que nos países menos vulneráveis. Além disso, o relatório relata que cerca de 3,6 bilhões de pessoas vivem em locais altamente vulneráveis à mudança do clima, e o nordeste brasileiro é um dos pontos mais vulneráveis do continente.
O IPCC também provou fatos do descaso do governo com a população mais vulnerável: 40 milhões de crianças brasileiras já estão expostas aos riscos ambientais, as quais vivem majoritariamente nas periferias. Ou seja, é o direito das futuras gerações sendo negado pelas consequências do sistema econômico global. Além disso, em 2021 mais de 2 milhões de pessoas foram mortas, desaparecidas, desalojadas ou feridas pelos desastres ambientais no Brasil. E as mudanças climáticas desenfreadas colocaram em risco a segurança alimentar da população em 62% dos municípios da Amazônia Legal, um dos lugares mais vulneráveis economicamente no país, justamente o local com maior porcentagem de povos originários brasileiros.
É POSSÍVEL UM CAPITALISMO VERDE?
O sistema capitalista é um sistema de exploração dos recursos naturais e humanos. Desde seu início, as fortunas foram feitas em cima da rapina dos recursos naturais dos países colonizados e exploração máxima dos operários (homens, mulheres e crianças) nas fábricas nos países industrializados. Assim se consolida esse sistema de injustiça, em cima do suor e sangue de milhares de trabalhadores e a busca cada vez maior por esgotar os recursos da natureza.
Outro ponto para análise é como se dá a produção neste sistema. A produção é feita coletivamente, não há um serviço ou um produto que não passe pelas mãos de centenas de operários. Porém, a apropriação deste trabalho, de seu produto, é feita pela burguesia. É essa classe que, mesmo sem trabalhar, enriquece às custas do trabalho de centenas de explorados. Portanto, a produção no capitalismo não serve para resolver os problemas do povo, aqueles que de fato produzem tudo, mas sim aumentar cada vez mais o lucro da burguesia, quem detém os meios de produção. Por isso é que vemos o Brasil sendo um dos maiores exportadores de alimentos do mundo e a população passando fome. Ter toneladas de roupas sendo produzidas por ano, centenas de prédios construídos vazios e milhares de pessoas morrendo de frio nas ruas.
A lógica de acumulação infinita do capital, que é base do sistema capitalista, é absolutamente incompatível com os recursos naturais finitos e o equilíbrio ecológico do planeta Terra.
Portanto, é urgente acabar com esse sistema falido que é o capitalismo. É necessário e cada dia mais urgente construir um sistema onde a base do trabalho seja a cooperação e não a exploração. Onde a natureza seja respeitada e o povo viva com dignidade e saúde. A questão que se coloca hoje à humanidade já não é mais “socialismo ou barbárie”, mas sim “socialismo ou extinção”!