Mesmo com a intensificação da violência contra os povos indígenas, evidenciando o avanço do fascismo, também se acirra a luta de classes no nosso Brasil e é notável o glorioso crescimento de manifestações de luta pela classe trabalhadora, operários e camponeses.
Wildally Souza – Comunicação Nacional da Unidade Popular pelo Socialismo
Não temos uma única semana sem que sejam noticiados novos e estarrecedores ataques contra os povos indígenas deste país. Mesmo após a derrota de Bolsonaro, fascista financiado pelo agronegócio e inimigo declarado dos indígenas, todos os dias somos impactados por relatos de extrema violência contra povos e territórios originários no Brasil.
Somente em 2023, de acordo com o relatório sobre a violência contra os povos indígenas, publicado em 2024 pelo Conselho Indigenista Missionário, cerca de 208 indígenas foram assassinadas e outras 180 tiraram a própria vida, vitimadas pela violência de ruralistas e outros inimigos daqueles que estavam aqui antes mesmo da invasão portuguesa.
Ainda segundo relatório também apresenta outros dados importantes que confirmam a atuação fascista dos herdeiros da colonização: ainda em 2023 foram registrados 276 casos de invasões à territórios indígenas, 202 registros de exploração ilegal de recursos naturais e danos ao patrimônio e 850 terras seguem sem nenhuma qualquer avanço nos processos de regulamentação pela justiça – a burguesa. Destas, 563 sequer foram mencionadas num possível e distante processo de demarcação.
Não é surpresa que os maiores números destas violências estejam nos estados-cabide do agronegócio. Roraima, Mato Grosso do Sul e Amazonas somam 41% das denúncias.
Quando avaliamos as violências por omissão do poder público, ou seja, as vidas perdidas por negligência do estado, foram registradas 1040 mortes de crianças indígenas entre 0 e 4 anos, em casos de gripe, pneumonia, doenças gastrointestinais infecciosas e desnutrição. O Conselho Indigenista Missionário e Articulação dos Povos Indígenas do Brasil julga tais mortes como evitáveis e cobra que o governo olhe mais para os que sofrem defendendo suas terras.
Após a derrota nas urnas do fascista Bolsonaro que declarou publicamente ser inimigo dos povos indígenas e apesar do atual presidente, Luís Inácio Lula da Silva – o Lula – subir a rampa do Palácio do Planalto ao lado de Cacique Raoni e dar cabo a criação do Ministério dos Povos Indígenas, o governo Lula não tem cumprido a promessa de defender os povos originários e está cada vez mais alinhado ao agronegócio. Desde sua posse, o atual presidente demonstrou imobilidade frente às demandas, como a demarcação de terras e, mesmo com veto inicial, não se opôs exatamente contra a tese fascista do Marco Temporal.
Paralelamente, a bancada ruralista e a extrema direita avançam seus projetos de extermínio dos povos indígenas, além de comemorar e apoiar a intensificação da violência, do racismo, das ameaças e assédios morais contra aqueles que verdadeiramente são os donos de Pindorama.
O DERRAMAMENTO DE SANGUE NÃO PARA
O ano de 2024 mal começou e já fomos atropelados pelas inúmeras notícias de violência no campo e nos territórios. Em janeiro, vimos a Polícia Militar em meio a fazendeiros na Bahia, abrindo caminho para assassinar Nega Pataxó, pajé da comunidade Pataxó-hã-hã-hãe. Ainda em janeiro, Tarcísio de Freitas confirmou seu desprezo por medidas de defesa para os territórios indígenas de São Paulo.
Em março, sentimos profundamente a morte do Cacique Merong Kamakã Mongoió e presenciamos a intensa perseguição da empresa Vale e da justiça de Minas Gerais aos Kamakã Mongoió’s.
Já em abril, a tentativa de invasão ilegal e o assassinato de um jovem do povo Xogleng em Santa Catarina revoltou o Brasil, ou pelo menos aqueles que reconhecem e defendem a luta dos povos indígenas. Na metade de abril, as inúmeras denuncias de incendios ilegais em territórios de Roraima e na Mata Sul de Pernambuco e a intensificação da mineração e da invasão ilegal na Amazônia.
Em maio ficamos indignados com o descaso dos governos com as comunidades indígenas atingidas pela tragédia climática no Rio Grande do Sul. Além disso, nas últimas semanas assistimos a escalada de violência contra os povos indígenas em diversas regiões, em especial no Mato Grosso do Sul, onde fazendeiros, milicianos e ruralistas estão há dias incendiando terras e abrindo fogo contra os Guarani-Kaiowá da Terra Indígena Panambi – Lagoa Rica, que lutam pela retomada de Deus territórios já delimitados pela FUNAI desde 2011. .
Nesse cenário, que expressa a continuação de um dos maiores genocídios da história mundial, os povos indígenas denunciam que o processo de demarcação de terras e a não revogação do Marco Temporal contribuem para a intensificação da violência contra seus corpos, comunidades e territórios, que seguem ameaçados pelos herdeiros dos colonizadores e escravocratas que massacraram, assassinaram, estupraram e enterraram vivos seus ancestrais.
Como vimos, a derrota nas urnas do fascista e anti-indígena Bolsonaro não significou a vitória completa contra os males imperialistas e os tentáculos do fascismo ainda assombram nossos povos. Os governadores eleitos, em sua maioria, são de origem latifundiária, numa linhagem de banqueiros, herdeiros e donos do agronegócio — assim como os deputados, que descaradamente votam e apoiam o genocidio dos povos indígenas.
Alguns deles inclusive fazem questão de aparecer e se responsabilizar pelas batidas ruralistas nos territórios originários. Esses fascistas têm agido com repressão policial intensa contra as retomadas e os territórios já demarcados, além de avançarem cada vez mais com seus projetos políticos, promovendo e instigando uma constituição cada vez mais antipovo e fascista, como exemplificada pelo Marco Temporal, o Pacote do Veneno, a Lei de Terras e as liberações para pulverização aérea de agrotóxicos em todo o Brasil.
Apesar de serem uma das principais vítimas da exploração das classes dominantes, os povos indígenas resistem e lutam desde a invasão de seus territórios reivindicando seus direitos e a liberdade dos povos. Mesmo com a intensificação da violência contra os povos indígenas, evidenciando o avanço do fascismo, também se acirra a luta de classes no nosso Brasil e é notável o glorioso crescimento de manifestações de luta pela classe trabalhadora, operários e camponeses.
Estamos diante de uma oportunidade histórica de avançar de maneira decisiva rumo a políticas que garantam efetivos direitos aos indígenas no Brasil e no mundo, mas para isso ser possível é preciso que o atual governo largue as mãos do agronegócio, do garimpo, de grileiros e banqueiros e ouça mais a voz daqueles que votaram em seu novo mandato.
Para aqueles como nós, que lutam pelo fim do capitalismo, do imperialismo e caminham por uma sociedade livre da exploração e opressão, a sociedade socialista, é hora de reforçar as fileiras de luta, organizar e crescer nosso trabalho em todos os territórios desse país que sofrem pela exploração das classes dominantes. Chegou o momento de levantar a bandeira da rebelião e defender a soberania nacional, o poder popular e acabar de vez com os projetos antipovo dos capitalistas.