Bolsonaro tentou dar um golpe de estado, passar por cima do parlamento, do judiciário e das instituições e declarar-se ditador supremo do Brasil, para governar acima da constituição, das leis e da vontade popular. Não conseguiu seu intento e por isso promoveu, com seus asseclas, um recuo vergonhoso, mas momentâneo. Sua base social raivosa – o agronegócio, pastores da igreja evangélica e caminhoneiros reacionários – manteve-se praticamente intacta, Artur Lira, presidente da Câmara Federal, jogou panos quentes e o mercado se reanimou.
Setores do capital bancário e financeiro demonstraram insatisfação com Bolsonaro apenas no ponto da instabilidade dos mercados, mas não nos enganemos, são contradições não antagônicas, pois no essencial têm unidade nas pautas econômicas. Só abandonarão o barco desse governo fascista e assassino se, e somente se, encontrarem outro porto seguro que lhes permita continuar espoliando o povo, devastando as riquezas nacionais e roubando os recursos públicos.
Esse governo é um governo de generais e de banqueiros, que não pretendem abrir mão do poder, mas querem sim um poder maior. A estratégia de “aproximações sucessivas” continua sendo adotada. Chamamos a atenção à entrevista de Bolsonaro, logo em seguida ao 7 de setembro quando já tinha feito o recuo, na qual falou para explicar para seus apoiadores mais exaltados: “Querem imediatismo. Se você namorar e casar em uma semana, vai dar errado”, uma metáfora clara de que pretende casar com o poder, sendo esta tentativa apenas uma primeira investida.
Por tudo isso, devemos considerar o ato do dia 02 de outubro como a verdadeira contraofensiva ao golpe e configurar-se como o início do xeque mate final ao facínora, que transformou o país em um grande cemitério. Não podemos, nem devemos depositar nossas esperanças no parlamento do “centrão” e da grande burguesia, nem no STF, pois ambos já apaziguaram os ânimos, buscando negociar e conciliar com o fascismo. Devemos fazer uma grande ofensiva com todas as nossas energias e atacar o inimigo com o poder do povo, enquanto ele ainda está acuado.
Estrategicamente devemos ter o foco em Brasília levando caravanas de todos os lugares possíveis, direcionando forças e concentrando o máximo as nossas energias. Este ato ocorrerá logo em seguida a divulgação do relatório da CPI da COVID, o que será um fato político importante. Podemos ir ao parlamento exigir a abertura do impeachment, colocando Arthur Lira sobre as cordas e dar uma ofensiva no palácio de governo. Derrubar esse governo é a única forma de defendermos a democracia.
É importante ressaltar que foi Bolsonaro que fez uma importante ofensiva, mesmo que tenha saído pela culatra. O que necessitamos agora é dar uma pujante contraofensiva, jogando todas as forças para derrubar esse governo. Mais do que milhares, precisamos que milhões de trabalhadores e trabalhadoras ocupem as ruas e diga em alto e bom som que lugar de fascista é na lata do lixo.
Fazer do 2 de outubro apenas mais um ato para enfraquecer o governo e poder vencê-lo apenas em 2022, pode até parecer uma correta estratégia em um jogo de xadrez, mas é perverso e desonesto com os desempregados, desvalidos e desalentados da vida real. Enquanto Bolsonaro sangrar politicamente, o povo literalmente morrerá, seja de covid ou seja de fome, nas periferias ou nos corredores dos hospitais desse país.
Por isso devemos travar uma imensa e fraterna luta política com os setores do movimento popular que colocam grande peso na aliança com os neoliberais. Afirmamos que esse setor não pretende derrotar o fascismo em sua pauta econômica, nem vão colocar o povo na rua ameaçando a estabilidade e pautando os direitos. Se eles quiserem ir às ruas tudo bem, a rua é pública. No entanto, não aceitaremos que tomem as nossas bandeiras, muito menos as nossas pautas, tão caras, como a punição dos torturadores e por direitos econômicos e sociais para a classe trabalhadora.
Temos o dever e a obrigação histórica de colocar o nosso povo nas ruas organizado, consciente e determinado. Nosso centro político é o Fora Bolsonaro e a retomada dos direitos sociais, direitos estes que foram retirados por meio do golpe, que não foi principalmente contra o PT, mas pela retirada dos direitos trabalhistas e pela entrega do patrimônio público. Agora é a hora de ajustarmos as contas com os diversos matizes do neoliberalismo, seja ele fascista ou pseudo-democrata.
Por isso devemos colocar a classe trabalhadora na vanguarda dessa luta, com suas pautas hasteadas, e assim, arrastar a reboque os setores da pequena burguesia e mesmo da burguesia. Só assim realizaremos uma grande ofensiva e derrotaremos de vez Bolsonaro e os fascistas, sem ilusão com os neoliberais, com o parlamento e o STF. Vamos então concentrar todas as nossas forças e energias, navegando nesse mar turbulento com grande firmeza. Dar espaço ao fascismo, alegando que ele fez um recuo, não é uma opção.
Wanderson Pinheiro e Pedro Laurentino Reis Pereira, ambos dirigentes nacionais da Unidade Popular – Pelo Socialismo.