Trabalho de base, pisar no barro, reunir o núcleo do partido, formação política. Parecem termos em desuso no campo da esquerda. Para a Unidade Popular, porém, somente somos dignos de sermos chamados de PARTIDO, se desenvolvermos esse tipo de trabalho de forma permanente. É assim desde a nossa fundação, especialmente a partir da militância do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), uma das organizações fundadoras da UP, e foi assim também no processo eleitoral.
Em todos os estados por onde passou nossa caravana nacional, em alguns lugares representada por mim, em outros, pela nossa candidata a vice-presidente Samara Martins, a prioridade foi o trabalho e o diálogo permanente com a classe trabalhadora que vive nesses espaços. Visitamos Paraisópolis, uma das maiores favelas de São Paulo, além da Zona Leste da Capital e o Cerqueira Leite, em Mauá; na Comunidade São Rafael, em João Pessoa; nas ocupações Vila União e 29 de janeiro, em Curitiba; no bairro do Uruguai, em São Tomé do Paripe e na Ocupação Carlos Marighella, em Salvador; na Via Sul, em Recife, nas Vilas Pinho e Santa Rita e nas Ocupações da Izidora e do Barreiro, em Belo Horizonte; nos ribeirinhos da Baía do Guajará e do Médio Moju, no Pará; nos quilombolas na beira do Rio São Francisco em Januária (MG); nas Retomadas Indígenas em Caucaia, no Ceará; no morro da Costeira do Pirajubaé, em Florianópolis; Nonai, em Porto Alegre; Favela do Lixo e Quilombo Botafago (Cabo Frio); Nova Iguaçu (RJ), Madureira e Rocinha, no Rio; em Taguatinga, no Distrito Federal, dentre tantas outras regiões periféricas.
Desta vez, pude ver ainda mais de perto o trabalho realizado pela militância de nosso partido em todo o Brasil.
Vi a reunião do núcleo da UP que recebe o jovem, mas também o pedreiro e a diarista, cansados de uma longa jornada de trabalho. As mães pretas, que me olhavam e diziam que eu pareço com o filho delas (alguns assassinados pela polícia ou outras violências), participando ativamente de nossas plenárias. Vi essas pessoas quebrando “mitos”, falando de socialismo, marxismo e história do Brasil.
Sim, estes temas podem, devem e são debatidos pela UP nas periferias. Inclusive, me lembrou que o socialismo só se torna força material quando penetra nas massas populares, se funde a elas e assume a própria fisionomia do povo.
Mas eu vi bem além disso. Vi a preocupação da responsável pelo núcleo em uma dessas periferias preocupada para que a reunião não fosse no dia do culto para não concorrer com a fé dos que são filiados. Vi o núcleo preocupado não só com a formação política, mas se o irmão de partido tem o que comer em casa por estar desempregado ou realizando trabalho de alfabetização inspirado no método do mestre Paulo Freire. Vi também núcleos iniciando trabalhos culturais, na roda de samba, no funk, nas batalhas de rap, nas brincadeiras da creche e na preparação do Dia das Crianças.
Vi um núcleo nas ocupações tomar a decisão de fazer o “gato” de água e de luz porque o poder público se nega a fornecer coisas tão básicas para um ser humano. Vi núcleos tomarem a decisão que não vão cumprir a “ordem” judicial de despejo e vão resistir junto do povo pobre que não tem outro lugar para morar senão aquele que ocupou. E, ao mesmo tempo, vi vários núcleos planejando panfletagens na porta da fábrica, da empresa, nos pontos de ônibus e nas feiras, pois o partido deve ir em todos os lugares que está a classe trabalhadora.
Vi uma nova geração, que não é filha de político tradicional nenhum, que não tem nenhum padrinho rico, que tem sobrenome Souza, Vieira, Santos, Oliveira, etc. Que se formou ocupando escolas, fazendo greves, manifestações pelo passe-livre, realizando ocupações urbanas, fazendo as grandiosas redes de solidariedade que bravamente combateram a fome no momento mais crítico da pandemia e que combate a extrema-direita e os fascistas no dia a dia. Que combate, desde 2018 (ainda nas eleições), esse governo da fome, do desemprego, da miséria e da corrupção.
Vi com meus próprios olhos um tipo de político diferente sendo formado por esse partido, guiado não pelo poder do dinheiro, mas por ideologia, por princípios de esquerda, um político que tem escritório no beco, na rua, que é revolucionário, não de gabinete.
E nossas lideranças (que se candidataram a partir de decisão coletiva) estavam permanentemente preocupadas em combater o individualismo e o personalismo, destacando que o coletivo é principal de um trabalho desta natureza. Destacando ainda que a UP apresentou, neste processo eleitoral, 71% de candidaturas femininas e 64,5% de candidaturas negras. Ou seja, a cara do povo brasileiro.
Assim, nosso partido obteve votações expressivas para as condições difíceis e antidemocráticas impostas pela legislação eleitoral, cerca de 370 mil votos conquistados pelo convencimento, pelo trabalho real, voluntário, de equipe. Passou a ter mais destaque também nas redes digitais, por onde nos chegaram mais de 15 mil pedidos de filiação em todo o país. Tudo isso nos mostra que estamos no caminho certo.
A Unidade Popular é um partido que se orgulha em edificar suas bases na periferia. A UP é o reencontro da esquerda com a periferia.
Leonardo Péricles
Presidente Nacional da Unidade Popular