Clarice Figueiras
Militante do movimento de mulheres Olga Benario-MG e da Unidade Popular
Em dois dias, dois acontecimentos (não isolados) escancararam a máquina assassina e repressiva que é o Estado brasileiro. Em 24/05, a segunda maior chacina promovida pela polícia militar no estado do Rio de Janeiro deixou 25 mortos e um luto perpétuo aos familiares e moradores da Vila Cruzeiro. No dia 25/05, em Sergipe, a Polícia Rodoviária Federal criou uma câmara de gás em um carro para executar Genivaldo de Jesus Santos. Em comum, as vítimas eram pobres e negras. Em comum, a polícia como responsável e assassina.
O Brasil é um dos países que mais mata sua população pobre e não-branca. Pela história colonial, em um país que dizimou os povos originários e escravizou a população negra, não é coincidência que as populações que mais sofrem com a desigualdade e com a repressão sejam a população negra, migrante e indígena.
Todos os dias a violência é direcionada às aldeias, às favelas, aos bairros periféricos. Todo dia uma política de assassinatos, de fome e de desemprego atinge a população brasileira. Todos os dias pessoas têm seus entes queridos arrebatados pela máquina de moer os despossuídos, todo dia cria-se um luto individual, comunitário e nacional pelos que foram massacrados. O governo fascista de Bolsonaro aumentou drasticamente a desigualdade e a violência que já eram altas. Bolsonaro, seus comparsas neoliberais e o exército buscam enriquecimento próprio e entregar o país aos ricos, às custas da dignidade e da vida de milhões de brasileiros. A polícia, qualquer que seja, no sistema capitalista, é a ferramenta que é utilizada para dizimar o povo negro e o povo pobre, a polícia armada e militarizada que cada dia mais executa, coage, desvia, prende os indesejáveis, abre caminho para que se mantenha o privilégio de uns poucos às custas da classe trabalhadora.
A Unidade Popular compartilha do luto dos familiares das vítimas da chacina de Vila Cruzeiro e de todas as chacinas promovidas pela Polícia Militar. Repudia, lamenta e indigna-se também com a execução de Genivaldo e junta-se ao clamor por memória, verdade e justiça por nossos mortos.
Defendemos nosso povo e nosso direito a vida, alimentação, moradia, trabalho e justiça, e sabemos que apenas com forte mobilização popular poderemos conquistá-los. Por nossos mortos e por um futuro possível para os trabalhadores brasileiros precisamos com urgência manter-nos nas ruas, organizar mobilizações massivas contra o governo genocida de Bolsonaro e contra o sistema capitalista neoliberal que nos oprime e nos mata diariamente. É pelo direito de viver em paz e dignamente que se faz urgente a desmilitarização e reforma das Forças Armadas, especialmente da Polícia Militar.
Apenas com unidade popular e lutas constantes e organizadas podemos derrotar esse sistema assassino. Que tenhamos um calendário de lutas articulado com movimentos sociais, movimentos sindicais, movimento negro, povos indígenas, movimentos de mulheres, juventude e estudantes para fortalecer a resistência ao fascismo e ao neoliberalismo.
Aos nossos mortos nenhum minuto de silêncio, mas uma vida inteira de lutas!